Futuros do passado

Estive lendo a versão digital de “Futuros Imaginários”, de Richard Barbrook, PhD pela Universidade londrina de Westminster e ex-punk (isso foi anos 80).O livro é bastante original e brilhantemente embasado em pesquisas que demonstram como a política influenciou a forma pela qual a internet foi gerada e é controlada atualmente.O ponto de partida do livro é a Feira Mundial de Nova York em 1964, que Richard visitou ainda criança, levado por seus pais.

O autor vai comentando, de forma envolvente, os primórdios da internet, durante o período da Guerra Fria,  analisando como a política influenciou os avanços tecnológicos que nos levaram ao mundo conectado atual. É provável que uma boa parte da decadência dos regimes comunistas tenha sido acelerada por este grande desequiíbrio tecnológico entre a Rússia e os EUA.

Nos EUA as novas formas de produção possibilitadas pela nascente indústria de informática americana rapidamente tornaram ainda mais obsoletos as formas de produção e o controle centralizado do conhecimento, nos regimes comunistas.

Nos anos 50-60, os líderes americanos criaram uma visão cuidadosamente orquestrada de um futuro imaginário, em que a tecnologia digital se tornaria a mola mestra de uma nova economia capitalista (o que se confirmou, nos Estados Unidos e no mundo ocidental) e haveria um futuro brilhantemente promissor para todos (ou seja, viajaram bonito nessa onda do tecno-positivismo).

Neste cenário, em breve os robôs lavariam as louças, iriam trabalhar e pensariam por nós (como era prometido na feira de 1964). Com os Estados Unidos na vanguarda destas promessas, algumas obviamente inviáveis, o tecno-positivismo prometia que robôs teriam em breve “inteligência artificial”, superior à humana (ateh agora isso nao rolou, mas sabe la’ daqui uns anos).

Barbrook desafia as novas gerações a resistirem à política do status quo e a utilizarem a ferramenta política mais poderosa do mundo, a internet e o software livre, para dar uma melhor forma ao seu próprio destino. Inspirador e super atual.

Para baixar o livro (fique tranquilo, é autorizado pelo autor), clique aqui.

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Trilha sonora para uma sexta chuvosa

Nick Drake eh desses obscuros artistas rimbaudianos que deram o fora desse planeta muito cedo, aos vinte e poucos anos, deixando um legado de tres discos de folk profundamente tocantes.

Para amplificar esse sentimento de sinceridade poetica de alta voltagem, numa sexta chuvosa, sugiro uma poesia de  Torquato Neto (outro dessa estirpe de Drake e Ana Cristina Cesar):

“Eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

Eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

Eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
Eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.”

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Se cuida Black Keys

Mais uma banda na formacao batera-guitarra, o duo My Goodness, de Seattle, segue a receita blues rock + psicodelia, com mais peso que o Black Keys. Check it out:

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A cidade onde os jovens vão para se aposentar

Portland, no Oregon,  representa um estilo de vida (s)low profile, pouco comum em uma sociedade super competitiva como a americana. Refugio de freaks variados com uma vibe riponga-alternativa que vai do apreço por alimentos orgânicos ao desprezo por meios de transporte motorizados. Dai o mote local: “A cidade onde os jovens vão para se aposentar”.

São outros vários os adjetivos possíveis, alguns bastante europeus, como: a capital nacional das bicicletas, a capital das microcervejarias, a capital do food truck, a capital do donut decorado com tiras de bacon, a capital das lojas de discos de vinil, a capital da chuva, a cidade que parou nos anos 90. Esse mito freak em torno da cidade, gerou inclusive um seriado, Portlandia.

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O retorno do retorno – ou como perder tempo só mais uma vez

 
Relendo uma cronica genial do Antonio Prata, que guardei no bau da internet, como um bookmark perdido no tempo…
FOLHA DE SP – 09/05/12

De todos os germes de loucura que um dia possam brotar, há um que tem me incomodado bastante 

“Todos sabem que a barreira entre a sanidade e a loucura é mais fina do que Magipack: uma esticadinha, uma alfinetada e, pronto, nosso sarapatel de caraminholas pode entornar sobre a reluzente fórmica da consciência. Convenhamos, se fosse possível filmar o que passa por sua cabeça numa mera ida à padaria, você seria amarrado a uma camisa de força antes mesmo de conseguir comer um pão na chapa, tantas seriam as sandices sem nexo -e, pior ainda, as com nexo- projetadas na tela do pensamento.

De todos os germes de loucura que, temo, um dia possam brotar, há um que tem me incomodado bastante ultimamente. Trata-se de uma loucura antiga que agora resolveu me visitar de roupa nova. A loucura antiga, que me acompanha desde que me conheço por gente -desde, portanto, que me desconheço-, é a seguinte. Estou numa estrada. Avisto uma placa de retorno. Meu medo é pegar esse retorno, fazer o oito no viaduto sobre a estrada e, do lado de lá, entrar novamente no retorno para o sentido em que eu vinha. Chegando ao ponto de partida, mais uma vez, pegaria o retorno, e ficaria preso nesse circuito de autorama até acabar a gasolina, até, quem sabe, ser parado pela polícia com tiros no pneu -mas quem garante que, então, não seguiria a pé, fazendo sempre o mesmo caminho, entregue à satisfação infantil da repetição?

A versão atual da fantasia tem o mesmo conteúdo, mas o cenário não é mais uma estrada, e sim as redes sociais e o e-mail. Estou no meio de um texto e ouço o bipe de chegada de mensagem. É a placa de retorno, acenando-me, a chamada para que eu saia da rota. Assim faço: minimizo o Word e abro o Outlook. Se eu logo voltasse ao trabalho, estaria tudo certo, mas não: decido pegar um outro desvio e abro o Facebook. Não satisfeito, entro no Twitter. Então, quando estou indo pro Word novamente, penso: por que não abrir o e-mail, só mais uma vez?

Só mais uma vez? Será? Quem garante que, terminado o segundo passeio pelo circuito, eu não vá recomeçá-lo? E re-recomeçá-lo? E re-re-recomeçá-lo? Como saber se eu conseguirei sair dessa montanha-russa do diabo, dessa inútil roda de ratinho de laboratório? Há dias em que passo 30, 40 minutos indo de um programa pro outro, como uma bola de pinball sendo ricocheteada pelos pinos e barras coloridas da máquina.

Alguns anos atrás, no metrô, vi um cara atravessar a estação tocando todos os cartazes de publicidade com o indicador da mão direita. Quando chegou ao fim, parou, virou-se e percebi em seus olhos vidrados o desespero do abismo. Era a placa de retorno que ele encarava. Respirou fundo, como se prestes a encarar uma missão enfadonha, mas incontornável, e cruzou a estação no sentido contrário, tocando as mesmas placas com o indicador esquerdo.

Acho que meu Magipack ainda está em boas condições, mas não custa deixar o aviso: por favor, Andressa, Lívia, Denise, Daniela e Adriano, se um dia minha crônica não chegar ao jornal, contatem um parente, peçam para um vizinho atirar garrafas de água mineral e maçãs pela janela do escritório, para o zelador cortar minha luz. Há grandes chances de que eu esteja preso no retorno do retorno do retorno do retorno do retorno..”

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UFO da China

Um objeto voador não identificado forçou o aeroporto Xiaoshan, na cidade de Hangzhow, na China, a suspender as operações no último dia 7 de julho. Desde então, imagens e vídeos do acontecimento feitas por moradores da cidade circulam pela internet, em discussões sobre o que seria o tal objeto. Ver abaixo:

A China parece ser uma base de pouso comum nas viagens intergalacticas, conforme outros videos:

Software decifra idioma extinto

No livro “Lost Languages”, de 2002, o então editor do suplemento de educação superior do jornal inglês The Times, Andrew Robinson, afirmou que o trabalho arqueológico de decifrar línguas extintas exige uma mistura de lógica e intuição que os computadores são incapazes de possuir. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, tentam mostrar que Robinson estava errado.

Em estudo que será apresentado esta semana na reunião anual da Associação para Linguística Computacional, em Uppsala, na Suécia, o grupo apresentará um novo programa de computador que foi capaz de decifrar grande parte do extinto idioma ugarítico, descoberto a partir de escritos encontrados na cidade perdida de Ugarit, na Síria, cujas ruínas foram encontradas em 1928.

O ugarítico era uma língua semítica escrita em alfabeto cuneiforme com 27 consoantes e três vogais. Os escritos encontrados foram importantes para estudiosos do Velho Testamento, por auxiliar a clarificar textos hebraicos e revelar como o judaísmo utilizava frases comuns, expressões literárias e frases empregadas pelas culturas gentis que o cercavam. O sistema, além de ajudar a decifrar línguas antigas que continuam a resistir aos esforços de especialistas, poderá expandir o número de idiomas que sistemas automatizados de tradução, como o Google Tradutor, são capazes de manejar.

Para simular a intuição que falta aos computadores, Regina Barzilay, do Laboratório de Inteligência Artificial e Ciência da Computação do MIT, e colegas fizeram várias proposições. A primeira é que a língua a ser decifrada pelo computador estaria próxima de outra. Para isso, foi escolhido o hebraico. Outra asserção é que haveria um modo sistemático de mapear o alfabeto de uma língua com relação ao alfabeto de outra, e que os símbolos relacionados deveriam ocorrer com frequências semelhantes nas duas línguas.

O sistema também fez asserções no nível semântico, no sentido de que as línguas relacionadas teriam pelo menos alguns cognatos, isto é, palavras com raízes em comum. Por meio de um modelo probabilístico usado em pesquisas em inteligência artificial, os pesquisadores determinaram nos mapeamentos os radicais semelhantes e conjuntos de sufixos e prefixos consistentes, entre outras relações entre as palavras das duas línguas. O ugarítico já havia sido decifrado. Se não tivesse sido, os autores do estudo não teriam como avaliar a performance do sistema que desenvolveram.

“O sistema repetiu as análises dos dados resultantes centenas de vezes. E, a cada vez, os acertos eram mais frequentes, pois estávamos chegando mais perto de uma solução consistente. Finalmente, chegamos a um ponto no qual a alteração do mapeamento das similaridades não aumentava mais a consistência dos resultados”, disse outro autor do estudo, Ben Snyder, também do MIT.

Das 30 letras do alfabeto extinto, o sistema foi capaz de mapear corretamente 29 com seus correspondentes em hebraico. Cerca de um terço das palavras em ugarítico tem cognato em hebraico e, desse total, o sistema identificou corretamente 60%. Das palavras identificadas incorretamente, na maior parte das vezes o erro foi por apenas uma palavra. Ou seja, o sistema deu palpites bem razoáveis”, disse Snyder.

Apesar dos índices de acerto, os pesquisadores destacam que o sistema não é suficientemente bem resolvido para substituir os tradutores humanos. Mas, segundo eles, é uma ferramenta poderosa cujo desenvolvimento poderá ajudar no processo de decifrar línguas desconhecidas e de traduzir outras existentes mais eficientemente.

O artigo “A Statistical Model for Lost Language Decipherment“, de Regina Barzilay e outros, pode ser lido em people.csail.mit.edu/bsnyder/papers/bsnyder_acl2010.pdf.

Fonte: portal Exame

Jimmy Wales, fundador do Wikipedia, diz que a web está em fase de transição

Direto do evento Infotrends, promovido pela revista Info, da Abril, em São Paulo.

Segundo Jimmy Wales, criador do site Wikipedia, não apenas a tecnologia está se tornando mais inteligente, como o próprio público consumidor de informaçoes está se sofisticando. Como exemplos ele citou a evolução das séries de sucesso na TV,  que estão cada vez mais complexas , trazendo enredos complicados e com múltiplas referências, como  os seriados americanos “Lost” e “Seinfeld“.

Ele acredita que a web também vive uma transição para uma maior sofisticação e que os usuários serão cada vez mais exigentes, críticos e colaborativos. Ou seja, mesmo que a grande maioria de usuários de apps como o Twitter não postem  nada relevante, como piadas ou comentários triviais, já existe uma grande massa crítica na web, formada por pessoas que tem realmente algo a dizer e querem compartlihar sua expertise nas mais variadas áreas de conhecimento.

Pode ser um visão otimista, mas de qualquer forma esta tem sido a visão do site Wikipedia, a enciclopédia virtual que milhares de colaboradores construíram gratuitamente, criando um dos sites mais complexos e extensos da web e que cobre virtualmente todas as áreas do conhecimento humano. Criado em 2001, este site é atualmente o quinto site mais acessado do mundo mas sobrevive de doações voluntárias, pois não aceita a inclusão de banners.

Por outro lado, esta visão contraria o senso comum expresso no chavão de que “as pessoas estão atoladas em informaçao na web”: Jimmy rebate e diz que há uma grande carência por informação útil e que esta demanda ainda é maior que a oferta. “O Wikipedia é uma prova disso”, diz ele. Ou seja, apesar das pessoas estarem recebendo cada vez mais lixo na web, por meio de spams, tweets tolos, videos engraçadinhos e outras formas de enviar informação inútil, existe uma demanda crescente por sites voltados à educação e à difusão de conhecimentos.

Longa vida à Wikipedia e que o futuro chegue logo.